3 de julho de 2007

Licenciaturas

Quando foi criada a Universidade Nova de Lisboa, ainda no tempo da outra senhora, foi anunciado que iria ter mais umas quantas (penso que 14) “novas licenciaturas”. Lembro-me que pensei, na altura, que era um erro. Se eram para ser, como calculei e logo se confirmou, do modo então em vigor em Portugal, eram em número exagerado, pois não havia tantos “novos” grandes sectores de actividades que as justificassem. Se era para ser no modelo americano, em que a universidade oferece um grade número de cadeiras e cada curso (ao nível de “Bachelor”, “Master” ou “Doctor”) é composto por um conjunto (apropriado, naturalmente) de cadeiras do “catálogo”, então esse número era demasiado pequeno.
Depois disso e especialmente com as novas universidades, houve uma desenfreada corrida a criar “novas” licenciaturas”, muitas delas apenas sectores de algumas já existentes. Um dos casos típicos foi a criação, em vez de cursos de engenheiro agrónomo, cursos de “engenharia agrícola” e de “engenharia zootécnica”, algo parecido com o que seria, numa Faculdade de Medicina, fazer cursos de “médico da cintura para cima” e de “médicos da cintura para baixo”. Noutros casos, alguns dos quais combati – sem êxito – em Conselho Científico, eram nitidamente sectores tão pequenos que deveriam ser especializações de quem já tinha uma licenciatura de base ampla. Houve ainda casos de licenciaturas de âmbito tão vasto que umas lambuzadelas de cada uma das matérias não chegava para pôr o diplomado em condições de resolver qualquer problema.
O resultado de tanto erro é o que o DN de 14-10-2006 relata com o título de “239 licenciaturas em risco de perder financiamento”.

Publicado no “Diário de Notícias” de 18-10-2006 com o título “Cursos em excesso”

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