3 de julho de 2007

O medo

Constantemente vemos e ouvimos dizer que em Portugal, antes do 25 de Abril, se vivia no medo. Muitos dos que o afirmam não viveram esse período mas repetem, convictos, aquilo que lhes ensinaram. Pode dizer-se que só têm uma opinião válida os que em 1974 tinham pelo menos algo entre 15 a 20 anos, ou seja, aqueles que têm hoje, pelo menos, perto de cinquenta anos.
Muitos dos portugueses dessa época, entre os quais me incluo, não concordavam com vários aspectos do sistema então vigente. (Diga-se de passagem, tal como não concordam com o sistema que nos rege, uma ditadura partidocrática, que não dá liberdade de escolha dos dirigentes, que não é capaz de desenvolver o país, que o mantém na cauda da Europa e agora a afastar-se dela cada vez mais. E que, não sei porquê, quase todos consideram, impropriamente, “democracia”).
A grande maioria dos portugueses não viviam no medo. Nem estávamos isolados, pois recebiam-se jornais estrangeiros (principalmente ingleses, franceses e espanhóis), ouvia-se a BBC e a Rádio Moscovo e viajava-se por todo o mundo.
É certo que havia um grupo de portugueses que, com boas razões, viviam no medo: os comunistas e seus simpatizantes. E compreende-se que tivessem medo, pois a polícia do regime os perseguia, no que tinha a aprovação da maioria dos portugueses. Bem se sabia que essas pessoas, adoradoras do ditador Estaline, o que queriam era implantar em Portugal uma ditadura como a da União Soviética, a quem obedeciam cegamente, como foi confessado, depois do 25 de Abril, pelo chefe Cunhal, como sendo “o sol da terra”, mil vezes pior que a que existia em Portugal. Li recentemente o desabafo duma pessoa a declarar como era bom agora andar na sua terra sem ter que se esconder e fazer vida clandestina, ao mesmo tempo declarando-se militante comunista. Felizmente que, desaparecido o comunismo da União Soviética, os partidos comunistas já são inofensivos, uma espécie de folclore que é engraçado ver e que, uma vez por outra, até dizem coisas certas, pois os governos que temos tido estão muito longe de funcionar eficientemente.
Para cúmulo do ridículo, aqueles que clamavam contra o artigo da Constituição de 1933 que proibia o comunismo – clamando que devia haver liberdade total de cada um defender as ideias que entendesse – inscreveram na nossa actual Constituição o Artigo 46º que, no seu nº 4 proíbe “organizações racistas ou que perfilhem a ideologia fascista”. Não se refere o “nazismo” – que foi, na Alemanha, bem pior que o fascismo na Itália - talvez porque o nazismo era... o nacional socialismo! É claro que, se se cumprisse a Constituição, o Partido Comunista devia ser proibido em Portugal. Além do que sabemos das “amplas liberdades”, não esqueçamos que ele é muito apropriadamente chamado de “social fascismo”.

Publicado no “Linhas de Elvas” de 8-6-2007

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