Publicado no “Jornal de Sintra” de 30 de Novembro de 2007
Um problema que tem sido objecto de recentes debates é o de considerar necessário definir quais os critérios com que devem ser consideradas as diferentes alternativas para um novo aeroporto de Lisboa. É uma ideia correcta pois a escolha não deve ser simplesmente por palpite ou por pressão deste ou daquele lóbi.
Os aeroportos são infra-estruturas destinadas à aterragem e descolagem de aviões. Por esse facto, o primeiro critério a considerar é o de natureza aeronáutica. Só deve ser construído um aeroporto com limitações aeronáuticas se não houver alternativa melhor. Assim, as primeiras pessoas a emitirem opinião sobre qualquer alternativa devem ser os pilotos para que não suceda que os responsáveis políticos – a quem cabe a decisão – só “descubram”, depois da obra feita, que as limitações aeronáuticas vão diminuir enormemente o valor dum investimento caríssimo. Estará isto a ser devidamente considerado no caso do novo aeroporto de Lisboa?
Num “Prós e Contras”, na televisão, uma intervenção do prestigiado Comandante Lima Bastos foi lapidar a apontar as grandes limitações de natureza aeronáutica que viria a ter um aeroporto se fosse construído na Ota. Apesar disso, alguns lóbis continuam a fazer pressão para que se construa esse aeroporto que, alem das limitações aeronáuticas, não tem possibilidades de expansão – indicam-lhe uma vida útil de apenas 30 anos até à saturação – e implica uma caríssima construção, apenas “boa” para dar dinheiro a construtores.
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Quando um aeroporto está a atingir a saturação e não é possível ampliá-lo, há duas soluções alternativas: ou construir um aeroporto maior totalmente novo ou manter o antigo e construir outro, relativamente perto. Esta solução do antigo mais um é a que menos investimento exige e a que evita as destruições do antigo, onde já foram investidas quantias enormes.
O Presidente da TAP é contra esta alternativa com o argumento, perfeitamente válido, do inconveniente para os passageiros em trânsito que tiverem de se deslocar até ao outro aeroporto.
A Portela tem vantagens e inconvenientes e os inconvenientes são semelhantes aos de alguns aeroportos na Inglaterra, na França e na Alemanha. Por esse facto penso que não deve deixar de se considerar a alternativa Portela + 1. Se o segundo aeroporto for Alverca, como já tem sido aventado, a distância entre eles é suficientemente curta para vir a ser possível ter transportes frequentes e rápidos para fazer a ligação, o que atenua os problemas dos passageiros em trânsito. Não podemos esquecer que é hoje frequente os passageiros terem de se deslocar longas distancias, a pé, para irem dum ponto a outro dentro do mesmo aeroporto. E quando o país se considera financeiramente em tão mau estado que nestes dois anos e meio já causou à grande massa de trabalhadores a maior redução de sempre no seu poder de compra e no seu nível de vida, a solução que exige menos investimento pode ser interessante.
A Portela, tudo o indica, não deve estar tão perto da saturação como alguns tentam fazer crer. Há aeroportos mais pequenos com mais movimentos. As incríveis e absurdas demoras na recepção das bagagens só revelam a incompetência de quem superintende nesse serviço e da hierarquia que lhe é superior. A menos que sejam deliberadas (para dar a ideia de que o aeroporto já está saturado), o que seria muito grave.
Se o novo aeroporto de situar na margem Sul, mais ressalta o que talvez seja de considerar grande falta de visão ter sido construída a Ponte Vasco da Gama apenas rodoviária, sem ser também ferroviária. Basta ir ver a que há poucos anos foi construída entre Copenhaga, na Dinamarca e Malmoe, na Suécia, exteriormente muito parecida com a Vasco da Gama, atravessando o Estreito de Sund, e que muito facilitou as ligações ferroviárias entre os dois países, para se compreender porque é que alguns países são ricos e Portugal continua pobre.
As minhas qualificações aeronáuticas são modestas, mas não sou totalmente leigo na matéria. Durante algumas dezenas de anos pilotei aviões e planadores, em Portugal e nos Estados Unidos. Sou hoje um dos mais antigos sócios do Aero Club de Portugal, onde durante oito anos exerci o cargo de Presidente da Assembleia Geral e de que recebi o “Diploma de Honra”. Tais qualificações não me permitem emitir opiniões definitivas sobre esta matéria. Mas chegam para chamar a atenção para alguns pontos que alguns parece tentarem ignorar.
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