14 de março de 2008

O Eng.º José Moreira da Silva e os fogos florestais

Publicado no "Jornal de Sintra" de 29-2-2008


O final do ano 2007 trouxe-me a triste notícia de ter falecido, no dia de Natal, o Eng.º Silvicultor José Moreira da Silva, meu colega de curso. Não o via há muitos anos, pois desenvolveu toda a sua actividade no Norte, onde foi Administrador da Circunscrição Florestal e Director do Parque Nacional da Peneda-Gerez.

A comunicação social deu a notícia com pormenores, dizendo que era “considerado visionário” por defender, “com décadas de antecipação” as energias renováveis e o fogo controlado (que não inventou, mas cuja técnica desenvolveu enormemente) para combate aos fogos florestais.

O Eng.º Moreira da Silva era um técnico competentíssimo, só considerado “visionário” pelos medíocres com “décadas de atraso”, incapazes de compreenderem que o que ele preconizava não eram “visões” mas as técnicas que deviam ter sido adoptadas “há décadas”, em vez dos erros monumentais que continuam a ser cometidos e que tanto custam ao país e o mantêm com “décadas de atraso”. Era o Eng.º Moreira da Silva quem devia ter estado no comando, em vez dos incompetentes e de muito curta visão que têm conseguido que Portugal mantenha “décadas de atraso”.

Eu, como Eng.º Agrónomo, não sou especialista de fogos florestais. (Embora possua todas as cadeiras do curso de Silvicultura e o respectivo Tirocínio, não sou Eng.º Silvicultor porque não fiz a tese então necessária). Mas o que aprendi nessa matéria na "clínica geral" chega para ver os enormes erros praticados nas últimas décadas, como já mostrei(1,2). Se os Ministros da Agricultura que temos tido tivessem a noção das suas obrigações não teriam consentido as anedóticas transferências de alguns dos seus serviços (que até já anteriormente tinham mostrado o seu valor) para outros sectores sem competência para os executar cabalmente, como os resultados bem mostram nas áreas ardidas, nestes anos muito superiores ao que sucedia antigamente.

Se, em vez dos incompetentes "com décadas de atraso", os comandos estivessem nas mãos dos competentes que eles qualificam do "visionários", o país não estaria hoje na cauda da Europa. O caso do Eng.º Moreira da Silva, infelizmente não único, é bem demonstrativo do que este país é e do que podia ser. Se, no Século XV, em vez dos infantes D. Pedro e D. Henrique, fosse o Velho do Restelo quem mandasse (e que os teria apelidado de "visionários"...), Portugal não teria sido, como foi, a nação mais importante do mundo, com a espantosa epopeia dos Descobrimentos, cujos resultados, em grande parte, chegaram até aos nossos dias (pelo menos para os de mais de trinta anos) e a língua portuguesa não seria a 5ª mais falada no mundo.

(1) Mota, M. - Os fogos florestais na economia do país. Floresta e Ambiente Nº 65, Αnο 16, Abril/Junho, 2004

(2) --------- - Os fogos florestais e o CO2. Floresta e Ambiente Nº 76, Αnο 19, Janeiro/Março, 2007

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