Publicado no “Linhas de Elvas” em 21-12-2006
O Primeiro Ministro da Suécia, eleito recentemente, deu à “Newsweek” uma entrevista que os nossos governantes deviam ler. E até a deviam ler todos os portugueses, para terem melhor consciência do que se tem estado a passar em Portugal no último ano e meio. O actual governo sueco é do centro-direita. O nosso “diz” que é “de esquerda”.
Quando o entrevistador perguntou ao Primeiro Ministro Fredrik Reinfeldt se esperava continuar a manter o grande sector público da economia, que é de cerca de 30% do total nacional, a resposta foi que o sector público da Suécia pode ser dividido em duas partes. Uma é constituída pelo sistema de saúde, educação, cuidados aos idosos e às crianças, etc. Não considera qualquer redução nesse sistema e até pode haver aumentos de despesa nalguns sectores, como os hospitais. A outra são os benefícios a desempregados e algo semelhante, que ele critica e onde fará cortes.
Como se sabe, na Suécia a educação, a saúde e a protecção à velhice são encargos do estado. Um governo do centro-direita considera que não vai fazer aí qualquer redução na despesa e até haverá aumentos. E não fala na redução do número de funcionários.
O governo português, que se diz “socialista” (e ou não sabe o que é “socialismo” ou está a usar o nome abusivamente) e “de esquerda” (e ou não sabe o que é “esquerda” ou está a usar abusivamente essa qualificação), o que tem feito é exactamente o contrário.
O que eu não compreendo é porque é que a grande massa da população, que neste ano e meio já sofreu enormes reduções no seu nível de vida, através de aumentos salariais inferiores à inflação, brutais aumentos de impostos que afectam a todos por igual, como o IVA, aumento de taxas de serviços públicos e extinção de outros (para que se tenha de recorrer aos privados que com isso fazem negócio...), continua quase calada e quieta, apenas com um tímido protesto de vez em quando. Apesar de, com um governo que se diz socialista e de esquerda, os ricos serem cada vez mais ricos e os pobres serem cada vez mais pobres, não se vê a reacção desencadeada por agravamentos bem menores feitos por outros governos. Por bem menos que isto dissolveu o Presidente Sampaio a Assembleia da República. E afigura-se-me que, se tais acções tivessem sido cometidas por qualquer outro governo, se levantaria um imenso clamor em que o mais suave nome que lhe chamariam era de “fascista”.
Porque será que os portugueses não querem ver o que se passa na Suécia que, com nove milhões de habitantes (menos um milhão que Portugal), tem mais de um milhão de funcionários públicos, quase o dobro do que há neste país? E à estafada desculpa de que Portugal não é a Suécia eu pergunto: o que é que a Suécia faz que Portugal – com um governo competente – não é capaz de fazer?
________________________________
*Investigador Coordenador e Professor Catedrático, jubilado
Sem comentários:
Enviar um comentário