15 de março de 2008

A quebra no investimento

Publicado no “Linhas de Elvas” de 31-5-2007

Um economista socialista que, embora tentando disfarçar e mostrar isenção, revela frequentemente o seu propósito de ajudar o governo Sócrates, declarou recentemente (TSF, em 22-5-2007) que o abrandamento dos pedidos de empréstimo para investimento, especialmente para obras, diminuiu nos últimos tempos porque as pessoas se tinham endividado excessivamente.

A razão é outra, bem diferente. As pessoas endividaram-se para um certo nível de proventos e os mais atrevidos até a considerar os aumentos “normais” e que seria de esperar que acontecessem. Provavelmente, muitos até acreditando nas veementes promessas que lhes fizeram.

O que sucedeu foi exactamente o contrário. Em vez do aumento de proventos que as famílias tinham o direito de esperar, sofreram o mais brutal corte no seu nível de vida das últimas décadas. Congelamentos na progressão normal das carreiras, congelamento de vencimentos ou aumentos inferiores à inflação (que representam redução efectiva), aumentos de taxas e impostos (dois por cento do IVA, que afecta quase tudo, são grande aumento das despesas) contra as veementes promessas da campanha, supressão de serviços públicos para obrigar a pagar a privados, cortes em valor absoluto, como, por exemplo, no caso dos reformados do estado, que passaram a receber menos porque agora descontam para a ADSE, etc, etc, agravaram de tal forma a situação económica das famílias portuguesas que, naturalmente, vivem bem pior do que há dois anos. Nessas condições, não só não têm possibilidade de investir como nem de contrair mais empréstimos. A situação foi de tal forma que os encargos com empréstimos, que seriam suportáveis nas condições anteriores, deixaram de o ser com estes agravamentos e, em muitos casos em que não foi possível continuar a satisfazer os compromissos tomados, até sofreram penhoras e viram o seu nível de vida baixar ainda mais, quando devia ter subido.

É claro que a minoria que ganha muito e paga poucos impostos é insuficiente para o desenvolvimento do país. E até muitos dos de grandes proventos preferem – como frequentemente se lê nos noticiários - investir noutros países onde tudo funciona mais eficientemente.

Só é de admirar que aqueles muitos que tanto escarcéu fizeram com os governos anteriores (que lhes causaram muito menores prejuízos) agora estejam praticamente calados e apenas se vê um ou outro pequeno protesto. Seria de esperar, em face de tantos agravamentos do nível de vida, um clamor imenso e a exigência de imediata dissolução da Assembleia da República. Por muito menos que isto foi o que o Presidente da República socialista fez. Ou já todos se esqueceram?

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