14 de abril de 2008

Ainda os mestrados

Publicado no "Jornal de Sintra" de 28 de Março de 2008

Continua em grande a confusão - inexplicável - causada pela Declaração de Bolonha para o ensino superior. Essa confusão é muito agravada quando misturada com os monstruosos erros da legislação portuguesa de 1980 e o aberrante "enxerto" dum quarto grau académico, o mestrado, entre a licenciatura e o doutoramento.
Leio na comunicação social que está a haver reacções contra a exigência de algumas Ordens, como a dos Engenheiros e a dos Advogados que, no sistema proposto por Bolonha, só aceitam, para o exercício da profissão, as pessoas com o mestrado integrado. E aparece esta frase bombástica: "Lá fora isso só existe para cursos como Medicina e Arquitectura".
É evidente que quem apresenta essas ideias não tem a mínima noção das proporções. No campo da saúde não está vedado o exercício da profissão a quem tem o primeiro grau (de acordo com Bolonha), noutros países designado de "bacharel" e em Portugal, por decisão de quem pontifica nesse sector, designado "licenciado". Claro que pode exercer a profissão - como enfermeiro, não como médico.
Na engenharia sucede exactamente o mesmo. É possível exercer a profissão com o primeiro ciclo, como engenheiro técnico. Para a exercer como engenheiro exige-se como mínimo o nível de mestrado o que, aliás, já é menos exigente do que eram antigamente os cursos de engenheiro ou de médico, como já referi(1).
O mestrado integrado tem toda a razão de ser porque a estrutura dos cursos é diferente. Assim como os primeiros anos de medicina não formam um enfermeiro, os primeiros anos do curso de engenheiro não dão a categoria de engenheiro técnico. A estrutura dos cursos é diferente porque, com o esquema de Bolonha (e como sucedia anteriormente), quem quer exercer a profissão ao nível do primeiro ciclo, tem menos preparação básica e menos disciplinas técnicas. É por isso que os cursos de engenharia ou de medicina (e, possivelmente, também outros) exigem o tal mestrado integrado para o exercício da profissão com os títulos de engenheiro ou de médico e as correspondentes responsabilidades.
(1) Mota, M. - Mestrados. Jornal de Sintra de 21 de Março de 2008

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