30 de agosto de 2008

Doze anos de escola

Publicado no “Linhas de Elvas” em 27-9-2007

Já em tempos escrevi sobre o assunto(1) mas como voltou a ser indicado para futuro próximo que a escolaridade obrigatória passará a ser de doze anos, justifica-se que volte a esse tema. Do escrito citado transcrevo: “A solução que já propus ("Ingenium" de Fevereiro de 2002) é incluir nas actuais escolas de ensino básico e secundário, a partir do 5º ano, o ensino de muitos ofícios de forma que, ao completar o actual 9º ano, ou o 12º ano, em vez de sair com alguma preparação académica mas "sem saber fazer nada", ele possa entrar no mercado de trabalho com preparação para exercer um ofício.”
Um governo que não é capaz de ter a funcionar decentemente nove anos de escola obrigatória, havendo alunos que chegam à universidade sem saber escrever correctamente português e dão mais erros do que era antigamente permitido no exame de instrução primária, que tem os elevados índices de insucesso e de abandono escolar que se conhecem, o que é que pretende se tornar doze anos obrigatórios? Ampliar o mau panorama actual? Fazer crer ao mundo que, porque na lei os doze anos são “obrigatórios”, o nível do país subiu muito?
Para muitas profissões, nove anos de escola chegam para um desempenho eficiente. E o país precisa mais de pessoal a esse nível do que de licenciados (leia-se “bacharéis”) de pouca qualidade e em sectores em que não conseguem emprego. Aquilo que há muito preconizo mas que, mesmo com algum incremento recente, ainda é uma fracção muito pequena do que o país necessita é o que acima transcrevi, incluir nas actuais escolas de ensino básico e secundário, a partir do 5º ano, o ensino de muitos ofícios. Na minha opinião deveria haver, como norma institucionalizada em todas as escolas, a partir do 5º ano, vários cursos profissionais, válidos como escolaridade obrigatória, em paralelo com a linha académica, como em vários escritos já propus. Os bons profissionais com esses cursos ou com os que quiserem ir até ao 12º ano na linha profissional, podem muita vezes ser bem melhor remunerados do que os tais licenciados (leia-se “bacharéis”) de fraca qualidade. Como indiquei, nenhum desses es
quemas impediria quem o desejasse, de prosseguir estudos, fazendo em mais um ano extra as disciplinas que tiveram de suprimir para dar lugar à aprendizagem específica da profissão.
É isto que se me afigura muito mais importante para o país e para os estudantes do que impor doze anos de escola onde muitos (os que não abandonarem...) irão estar a contragosto.

(1) Mota, M. - 12 anos de escola? Jornal de Oeiras de 24-5-2005

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