29 de março de 2009

O espaço político

Publicado no “Linhas de Elvas” de 26 de Março de 2009

 Nas paupérrimas e distorcidas ideias políticas que vemos constantemente em Portugal, surge de vez em quando a pergunta se há "espaço político" para novos partidos. Essa pergunta é posta normalmente quando se anuncia ou já se concretizou a criação de novos partidos. O erro da pergunta está no facto de se pensar que os partidos existentes em Portugal têm políticas bem definidas e ocupando cada um uma clara parcela do espectro político que vai da extrema esquerda à extrema direita o que, como sabemos, não é a realidade. Mesmo que fosse, haveria sempre espaço para outro partido, pois há sempre a possibilidade de alguém concretizar melhor determinada política.

Variados acontecimentos mostram como os partidos portugueses, pelo menos os que têm estado no poder - e só desses podemos saber como concretizam as ideias que apregoam em campanha, pois não raro, como temos amarga experiência, fazem depois tudo ao contrário daquilo com que conseguiram enganar os ingénuos - mostram as mais erráticas e desencontradas políticas no exercício do poder ou mesmo fora dele. Todos se lembram como, durante as muitas mudanças de ministros do governo Guterres, o que entrava fazia tudo ao contrário do que o seu antecessor tinha feito. Durante a campanha para a eleição do Presidente do PSD, cada candidato defendia ideias claramente diferentes, do ponto de vista político, das dos outros candidatos. No governo PS que ainda temos e para além de ter feito tudo ao contrário do que tinha prometido - desde não subir impostos até criar 150.000 empregos - e de afastar cada mais Portugal da média europeia, variou constantemente de políticas e a enorme maioria dos seus actos são de direita. Privatizações são actos de direita. Se são de entidades de grande responsabilidade nacional, como é o caso da ANA - com o controle do espaço aéreo - que querem privatizar, podem ser consideradas de extrema direita. O aumento do leque salarial é de direita e um bom exemplo disso é o aumento, a eito, da mesma percentagem para todos os ordenados. Faz lembrar a antiga história do sujeito que dizia para outro: "dá-me o teu aumento que eu dou-te todo o meu ordenado". Os nossos ilustres politólogos continuam a chamar " de esquerda" ao PS que nos governa. Só o foi no seu início, quando andava de braço dado com o PC a fazer ocupações e nacionalizações, mas esse esquerdismo pouco durou. E quando hoje alguns falam dos "partidos à esquerda do PS" não compreendem que são todos os outros e que nem o CDS se atreveria a causar à grande maioria dos portugueses a maior perda de sempre no seu poder de compra e, portanto, do seu nível de vida. Umas migalhinhas dadas a uns velhinhos - aliás, baratas - não chegam para contrabalançar, apesar da intensa propaganda, essa enorme perda do poder de compra que, tudo somado, foi certamente mais de 20% e, como disse, a maior de todos os tempos, para a grande maioria dos portugueses. Essa perda de poder de compra é a causa da maioria dos casos em que as famílias - que se tinham endividado para o que era então o seu nível de vida - deixaram de poder satisfazer os seus compromissos. Apenas os ingénuos, que acreditam na propaganda e que o PS é socialista e de esquerda, consideram "corajosas" as medidas que tanto os prejudicaram.

Assim, há certamente "espaço político" para um partido - já que estamos sujeitos a uma ditadura partidocrática, ou partidismo e não podemos votar livremente - que seja capaz de desenvolver o país, fazer subir enormemente o actualmente baixo nível de vida da maioria dos portugueses e alterar  a constituição para dar liberdade aos portugueses. Só precisa de aparecer com nomes de pessoas credíveis e um programa satisfatório. Dizem-me que tal é impossível. Será mesmo?

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