7 de maio de 2009

Mais uma vez, os cabeças de lista

Publicado no “Linhas de Elvas” de 7 de Maio de 2009 

Por mais voltas que dê, não encontro em que eu possa estar errado em relação ao que se me afigura ser uma verdadeira miséria de ideias políticas generalizada em Portugal. Não encontrando erro da minha parte, não tenho complexos de me encontrar só, mesmo que, em vez de orgulhosamente, seja com uma certa tristeza de não viver num Portugal diferente e bem melhor do que aquele que temos.

Já mais de uma vez chamei a atenção para a total irrelevância dos cabeças de lista, pelo menos nos partidos que certamente vão eleger mais de um deputado.

Também considero incrível que aqueles que, legitimamente, se queixavam de não ter eleições livres e que, apesar de se poderem candidatar, viam ser eleitos apenas quem o chefe queria, agora aplaudem freneticamente quando o chefe lhes anuncia o nome da pessoa em que ele, ditatorialmente, lhes dá licença de votarem. Que bons antifascistas!

Nas eleições para o Parlamento Europeu, tanto o cabeça de lista do PS, como o do PSD, vão certamente ser eleitos. Assim, é perfeitamente absurdo que pessoas que tinham obrigação de ter ideias claras em matéria política e serem capazes de raciocinar, mostram não o fazer. No “Público” de 1-5-2009, o Dr. José Miguel Júdice, em relação às eleições para o Parlamento Europeu, diz: “Volto ao tema, desta vez através do principal confronto, o que oporá Vital Moreira e Paulo Rangel”.

Não vai haver confronto nenhum, pois ambos vão ser eleitos. Já em anteriores eleições tive de corrigir alguns comentadores, que cometeram idêntico erro.

Só haveria confronto se tivéssemos círculos uninominais e concorressem ambos ao mesmo e único lugar. Mais ou menos votos em qualquer das listas apenas vai decidir a eleição dum candidato lá para o 5º, 8º ou 10º lugar, frequentemente um ilustre desconhecido. Todos os que forem eleitos vão para o Parlamento Europeu em igualdade de condições e com o mesmo poder: um voto, quer seja cabeça ou cauda de lista. Não vai o cabeça de lista “chefiar” um grupo, pois cada deputado tem toda a liberdade de votar como entender, sem receber ordens de ninguém. (Se alguns, carneiralmente, aceitam receber ordens dum patrão, é com eles. Não é isso que se pretende em democracia).

Também nenhum partido que eleja mais um ou dois deputados que o outro pode clamar que “ganhou” estas eleições. Mais um ou dois entre as muitas centenas de deputados europeus é muito pouco relevante.

Sem comentários: