Publicado no Linhas de Elvas de 23-7-2009
Do que tenho visto e ouvido ao longo das campanhas eleitorais dos últimos tempos – e as campanhas não existem apenas nos períodos oficialmente a elas devotados – afigura-se-me, na minha modesta opinião, que há pontos importantes que as diferentes oposições não têm denunciado.
Penso que o mais grave, para a grande maioria dos portugueses, foi o brutal corte no seu poder de compra sofrido ao longo destes quatro anos – o maior de sempre! – resultado do aumento de impostos e taxas – tão veemente negado nas promessas da campanha eleitoral, em 2005! – da estagnação dos salários ou subidas inferiores à inflação, da extinção de serviços públicos, obrigando a pagar a privados, a supressão ou redução de benefícios, como alguns do IRS, etc. Aqueles que viviam com orçamento apertado, sem margem para cortes, cujo individamento era suportável para o nível de vida que tinham em 2005, deixaram, por motivo dos cortes (e não estouvadamente, como alguns economistas apregoam), de serem capazes de satisfazer esses compromissos o que originou o disparar das penhoras. Não vi as oposições denunciarem esse mal, com os dados completos, mostrando os erros cometidos pelo governo. (Lembro que tudo isto é anterior à crise internacional, que só estalou na segunda metade de 2008).
Os grupos parlamentares do PCP e do Bloco de Esquerda insistem muito no combate aos empregos precários e querem que os patrões não possam despedir empregados. Se isso pode “proteger” alguns empregados, tem dois efeitos perversos. Um é que pode levar à extinção de empresas, como temos visto suceder a tantas; o outro é que muitos empresários não admitem mais pessoal, mesmo quando, em certas ocasiões, tivessem possibilidade de lhes dar trabalho, porque não os podem despedir se faltar trabalho para os ocupar. Estes dois casos são causa de mais desemprego. Mas não vi aqueles grupos parlamentares atacarem um mal que parece ter voltado como era nos tempos de Mário Soares Primeiro Ministro, os salários em atraso. O mais elementar direito do trabalhador é receber o seu salário a tempo e horas e creio que seria oportuno fazer uma lei que determinasse que qualquer atraso seria automaticamente causa para penhora até aos valores em falta. Aqui fica a sugestão.
Em tempos antigos, o PS era um acérrimo defensor dos direitos adquiridos, algo sagrado em que não se poderia tocar. Era o seu ponto de vista quando ainda era socialista e de esquerda, algo que há muito deixou de ser e só porque os portugueses não se dão ao trabalho de raciocinar é que ainda lhe atribuem aquelas duas designações. (E isso apesar de alguns dos seus militantes estarem a chamar a atenção para o facto!). Não vi a denúncia desses vários casos, de que dou como exemplo o facto de os reformados da função pública terem passado a descontar para a ADSE, com total desprezo pelo direito adquirido. Este é apenas um entre muitos outros casos e as oposições, em vez de atacarem os males concretos, gastam tempo com acusações vagas, como a de arrogância, eleitoralismo e outras do estilo. É pena.
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