1 de novembro de 2010

Ainda a uva D. Maria

Publicado no Linhas de Elvas de 23 de Setembro de 2010

Das reacções que recebi a propósito do artigo sobre a uva D. Maria, um colega, especialista desse assunto (que não é o meu caso) fez o favor de me enviar algumas úteis informações. Disse-me que o desaparecimento, dos mercados, da uva D. Maria foi devido a dois dos seus defeitos, os bagos soltarem-se com certa facilidade dos cachos, o que é mau para a venda a granel e uma certa susceptibilidade ao oídio, doença aliás comum e controlável. Mas também por já ter sido substituída por outras melhores, nomeadamente por variedades sem grainha, algumas produzidas em Portugal. É um facto que qualquer variedade lançada na lavoura tem, normalmente, uma vida limitada, sendo substituída por outra melhor. Penso que já hoje ninguém cultiva o trigo Pirana, o primeiro lançado pela Estação de Melhoramento de Plantas, porque entretanto foram obtidos outros melhores, alguns pela mesma Estação. Procurando num supermercado, comprei as uvas "seedless" (sem grainha) produzida no Alentejo, na herdade Vale da Rosa. Na embalagem não diz qual é a variedade mas no recibo das compras está indicado 'Moscatel'. O seu preço era de 3,49 €/kg. No mesmo local comprei também outra uva, 'Red Globe', proveniente do estrangeiro. Esta custou 1,99 €/kg. Da prova a que procedi - e friso já que tudo o que vou dizer é apenas a minha opinião pessoal - resultaram os seguintes comentários: A seedless é certamente uma boa uva mas, para além da vantagem de não ter grainha, não achei, em matéria de sabor, nada de especial. Embora o recibo lhe chame 'Moscatel', o gosto a moscatel é ainda menos que o pouco da 'D. Maria'. O seu sabor, para mim, é muito inferior ao da excelente polpa da 'D. Maria' e os bagos são bem mais pequenos. A 'Red Globe', com bagos esféricos maiores e polpa mais firme, também é certamente uma boa uva mas de sabor igualmente muito inferior ao da 'D. Maria'. Nestas condições e não sendo produtor nem tendo quaisquer funções ligadas ao sector, apenas posso emitir, como disse, uma opinião pessoal. Mas não vejo qualquer objecção à venda da 'D. Maria', como já houve quando ela aparecia abundantemente no mercado e mesmo para venda a granel. De nenhuma das variedades que encontrei se pode dizer que a suplanta e apenas quem considerar a ausência da grainha mais importante que as boas características de qualidade, especialmente uma polpa grande e um melhor sabor (que não é o meu caso e, suspeito, o de muita gente) deixaria de a comprar. Em relação ao preço, penso que até poderá ser vendida, em embalagens, a um valor inferior aos 3,49 €/kg. Em tempos cheguei a suspeitar duma campanha contra a 'D. Maria', possivelmente da responsabilidade dos importadores a quem essa competição prejudicava. E a habitual passividade de muitos agricultores era a razão da campanha não ser combatida. O mercado educa-se mostrando a excelência do produto. Em consequência do meu artigo, já me foi manifestada a mágoa de não encontrarem no mercado uma uva de tão alta qualidade. Pelo menos até alteração destes dados, foi reforçada a minha convicção de que há mercado para a 'D. Maria', pois continuo a considerar que ela é superior e ainda não foi suplantada.

1 comentário:

Anónimo disse...

Estou de acordo, não há uva de mes que suplante a Dona Maria, felizmente ainda há, no comércio local de algumas vilas e aldeias Ribatejanas, onde se compre deste produto com uma qualidade insuplantável.