9 de março de 2014

A entrevista

Publicado no "Linhas de Elvas" de 27 de Fevereiro de 2014 Assisti, na TV, à entrevista do Dr. António Capucho. Depois de tratar do caso da expulsão do entrevistado pelo PSD, de acordo com os estatutos (que, no entanto, não foram aplicados a muitos outros casos…), falou-se longamente de eleições. Os portugueses, na sua quase totalidade, clamam que vivemos em democracia, simplesmente porque podem protestar. Mostram não saber que, em democracia, o sistema em que o poder reside nos cidadãos, não há uma ou meia-dúzia de cidadãos a dizerem aos eleitores em quem é que eles têm licença de votar, ou seja, delegar o seu poder. Desse mal se queixavam na anterior ditadura, mas parece que já o esqueceram. O que se tratou em grande parte da entrevista foi exactamente de saber quem é que o partido devia determinar que fosse candidato. Com a maior naturalidade, como se a vontade dos cidadãos fosse letra morta. Ou seja, os cidadãos são os detentores do poder, mas só o podem delegar em quem os chefes dos partidos (os actuais ditadores) decidem que seja o candidato. Como, para as autarquias, se abriu uma pequena janela democrática, o sistema já não está completamente blindado. Os portugueses têm vindo, progressivamente, a eleger cada vez mais candidatos independentes e é de esperar que esse modelo seja incrementado. Chamei-lhe “uma pequena janela democrática” porque os independentes têm de enfrentar barreiras que os candidatos nomeados pelos partidos não têm. Nas últimas Autárquicas, foram treze os candidatos independentes eleitos Presidentes de Câmaras Municipais, derrotando os candidatos dos partidos. Nas eleições de 2009 tinham sido apenas sete. É de esperar que, em próximas Autárquicas, mais alguns sejam eleitos, pelo menos enquanto a Constituição não for alterada e todas as eleições sejam, como é a do Presidente da República, totalmente independentes, limitando-se os partidos a apoiar o candidato que entenderem. Os partidos têm toda a razão para existirem, mas não como órgãos de poder. E muito menos como órgãos de poder ditatorial, como temos no nosso país.

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