11 de janeiro de 2017

Os cereais no Alentejo - 2

Publicado no "Linhas de Elvas" de 4 de Junho de 2015 - Continuando a explicação, iniciada no Linhas de Elvas de 21-5-2015, das razões porque considero importantes a drenagem dos solos e as rotações das culturas, para aumentar a produção de trigo em condições económicas no Alentejo, tratarei hoje da drenagem. Baseio-me nas observações do Eng.º agrónomo Sardinha de Oliveira, em relação à meteorologia, e nalguns casos posteriores que as confirmam. O Eng.º Sardinha de Oliveira mostrou que, nos anos de inverno chuvoso, a produção de trigo era baixa, por muitas terras ficarem alagadas e as raízes não poderem crescer em profundidade. Como no Alentejo se passa muito rapidamente de um inverno frio e chuvoso para um verão quente e seco, as raízes superficiais não dão defesa contra a seca. Se o inverno foi pouco chuvoso e o campo não ficou saturado de água, as raízes não sofreram asfixia, cresceram em profundidade e, chegado o tempo quente, puderam aproveitar a água que ainda se conservava nas camadas inferiores do solo. Alguns anos de seca levaram pessoas experientes a declarar que, nas searas, se iria colher gelha. Os resultados, não sendo os de um ano bom, foram muito melhores do que muitos esperavam. Do artigo “A drenagem das terras e a produção de cereais” ("Linhas de Elvas" de 27 de Maio de 1994), transcrevo: “No ano agrícola 1988-1989, que se seguiu a anos de inverno chuvoso, as condições meteorológicas nesse período crítico invernal foram muito favoráveis e, num artigo (Drenagem e Rotações. Dois temas de grande importância para a agricultura do Alentejo. DIAgrícola, Suplemento do “Jornal de O DIA”, Nº 14, de 20 de Junho de 1989) escrito em princípios de Maio de 1989, previa que fosse ‘um ano bom de trigo – talvez mesmo um ano excepcionalmente bom.’. Algumas chuvas no período primaveril vieram ajudar. As minhas previsões confirmaram-se e a produção de trigo em Portugal, foi, nesse ano, cerca de 50% superior à média do decénio, o que vem reforçar a ideia da grande importância da drenagem dos solos, como chamei a atenção noutro artigo no mesmo jornal.” Também tratei de drenagem e rotações no artigo "Que fazer com 900 mil hectares de sequeiro no Alentejo" ("Correio Agrícola" nº 164, Outubro de 2002), em resposta ao artigo "Que fazer com 900 mil hectares de sequeiro no Alentejo?", no jornal "Público" de 14-6-2002. Destes factos podemos concluir que a solução é conseguir que nunca a água se acumule de forma a saturar o solo, ou seja, instalar um bom sistema de drenagem, pelo processo mais adequado ao local. Quando isso se generalizar, desaparecem os anos maus causados por um inverno muito chuvoso.

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