3 de julho de 2007

Investigação científica: juntar para extinguir

É muito conhecida a velha fórmula que manda “dividir para governar”. Os governos, de há uns tempos para cá, empenhados em destruições várias, entre as quais a extinção de toda a investigação científica que não seja das universidades (um erro crasso que mais do que uma vez denunciei e cujos prejuízos, para a cultura e para a economia nacionais, são enormíssimos) descobriram uma nova técnica, que podemos designar por “juntar para extinguir”.
Conjugada com a campanha de destruição da agricultura portuguesa, também em marcha há algumas décadas, com diferentes governos e muito incrementada com o actual governo PS, a técnica de “juntar para extinguir” tem sido largamente usada e em diferentes sectores. Sendo um facto que não é possível ter agricultura eficiente e produtiva se o Ministério da Agricultura não possuir uma bem desenvolvida investigação agronómica, ela tem sido o alvo preferido dessas acções de destruição, como repetidamente venho denunciando. Como a extinção pura e simples de todo o sistema talvez levantasse o alarme e fizesse ir para o olho da rua tão nefastos dirigentes, a técnica usada, mais demorada mas “eficiente” para o fim em vista, tem sido a aplicação do “juntar para extinguir”.
Para isso começa-se por ir a uma instituição e reduzir o número dos seus departamentos, fundindo dois ou três num só, ao mesmo tempo que se vai reduzindo o seu pessoal, especialmente investigadores, assim limitando a produção de investigação. Para ajudar a essa destruição, corta-se nas verbas de funcionamento e até se ignoram soberanamente os erros – da responsabilidade dos governos – apontados por comissões de avaliação que incluem investigadores estrangeiros(1). (Tudo isto são factos, facilmente verificáveis, que têm ocorrido ao longo das últimas décadas, repete-se, com grandes prejuízos, para a cultura e para a economia nacionais). O passo seguinte é aplicar a mesma regra ao conjunto de instituições, reduzindo o seu número pela aplicação do “juntar para extinguir”, até que, quando já houver muito pouco, se consiga a extinção final. E assim se vai extinguindo o país!
Paralelamente e para ver se se apagam na memória das gentes determinadas actividades, vão sendo suprimindo palavras que são “inconvenientes” para o objectivo destrutivo em vista. “Investigação agronómica” ou mesmo “agrária” e até a palavra “agricultura” e seus derivados são termos a suprimir. O objectivo é fazer crer – como individualidades várias, por ignorância ou desonestidade, têm apregoado – que essa actividade “já não existe” em Portugal!
O que estas acções de destruição já custaram, estão a custar e vão custar à economia portuguesa são valores enormíssimos, assim contribuindo para a pobreza nacional, com reduzidíssimos crescimentos do PIB e mantendo o país na cauda da Europa e a afastar-se cada vez mais dos seus parceiros mais inteligentes.
Muito trabalho e altos custos vai ter um governo sério e competente – se alguma vez existir em Portugal – a reconstruir, de raiz, o que os governos das últimas décadas e, com especial intensidade, o que temos actualmente, têm andado a destruir.
(1) Mota, M – Investigação científica. A saga das avaliações. Sintra Regional nº 8, Pag. 12-13. Janeiro de 2005 e Jornal de Oeiras de 20 de Dezembro de 2005

Publicado no “Linhas de Elvas” em 3-5-2007

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