3 de julho de 2007

Só o desemprego?

O mesmo economista socialista que já referi(1) e que faz grandes esforços para ajudar o governo PS, comentou recentemente uma qualquer sondagem (que não vi) em que só 10% dos portugueses achavam que a nossa economia está melhor. Apenas na Hungria os cidadãos tinham uma visão pior. Na Dinamarca, 99 % da população considera que a economia está melhor. E disse que a razão para tanto “pessimismo” era apenas o desemprego. Declarou que a situação económica está a melhorar, a recuperação da economia é um facto, mas as empresas estão a conseguir esses resultados sem admitirem mais empregados, o que ainda irá demorar algum tempo.
A falácia de tais declarações é mais que evidente, pois o desemprego, embora alto, ainda está muito longe de afectar 90% da população. O que parece querer ser ignorado é que a grande massa dos trabalhadores - e não só os “desempregados” – sofreu nestes últimos dois anos a mais brutal descida de sempre no seu nível de vida. Como já escrevi(1), aumento dos impostos (negando o que tão veementemente tinha sido dito na campanha), como os dois por cento do IVA, que afecta todas as compras, o congelamentos na progressão normal das carreiras, o congelamento de vencimentos ou aumentos inferiores à inflação (que representam redução efectiva), aumentos de taxas várias, supressão de serviços públicos para obrigar a pagar a privados, cortes em valor absoluto, como, por exemplo, no caso dos reformados do estado, que passaram a receber menos porque agora descontam para a ADSE, etc, etc, etc. agravaram de tal forma a situação económica das famílias portuguesas que, naturalmente, vivem bem pior do que há dois anos. Como é possível não achar pior a situação económica de 90% dos portugueses que, ao contrário da melhoria de vida que tinham todo o direito de esperar, viram o seu nível de vida piorar drasticamente?
Os 10% de portugueses que consideram que a economia está melhor – ou seja, um milhão de portugueses, contra os 9 milhões que já sofreram nestes dois anos um enorme agravamento do seu nível de vida – são constituídos principalmente pelos privilegiados que, ao contrário da grande maioria dos trabalhadores, viram os seus proventos melhorar. E é possível que inclua aquela minoria de fanáticos adeptos do PS que, desde que esse partido esteja no poder, vivem satisfeitos e contentes, por maiores dificuldades que sofram. Não me esqueço que, no dia seguinte às eleições de 1995, que levaram o PS e Guterres ao poder, ouvi alguns desses fanáticos a declararem que “isto agora está muito melhor!” Quando ainda nada podia ter sido feito, quando a situação económica era exactamente a mesma do dia anterior, para esses fanáticos “já estava muito melhor”. E, como se viu, acabada a embalagem que recebera do governo anterior, o descalabro instalou-se, com o crescimento económico a ser inferior ao da média europeia. Em vez de nos aproximarmos da média europeia – objectivo modesto, pois considero que devíamos ser dos da frente – cada vez nos distanciamos mais dos nossos parceiros, situação que continua, com os baixíssimos crescimentos do nosso já de si ridiculamente baixo PIB.

(1) Mota, M. - A quebra no investimento, Linhas de Elvas de 31-5-2007

Publicado no “Linhas de Elvas” de 28-6-2007

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