3 de julho de 2007

Reclassificar funcionários

A notícia de que “Funcionários públicos dispensados podem ser reclassificados” (DN Economia 16-10-2006) exige alguns comentários. Se algo é surpreendente é o facto do governo só agora “descobrir” a possibilidade de “reclassificar” funcionários. Isso foi o que eu fiz muitas vezes, ao longo dos anos, ao serviço do estado, até porque para muitas tarefas necessárias ao sector da investigação científica não se encontra pessoal habilitado. E o mesmo fizeram muitos colegas meus, algo que parece ser novidade para o governo, já que está a considerar a “possibilidade” de o fazer.
Como exemplo, aponto um dos últimos casos em que tive essa acção. Quando assumi a direcção do Laboratório de Microscopia Electrónica da Estação Agronómica Nacional, o funcionário que foi contratado para fazer a manutenção dos aparelhos tinha acabado o serviço militar e não fazia a mínima ideia do que eram aquelas máquinas. Ao fim de algum tempo já era – como continua a ser hoje – um categorizado técnico de microscopia electrónica. São acções deste género que o estado tem de fazer, em todos os sectores e para isso ainda tem (apesar das destruições) pessoal competente para treinar pessoal em tarefas que devia fazer e não faz, ou faz muito mal.
Quanto à ideia errada de que Portugal tem funcionários “a mais”, basta constatar que a Suécia, que tem menos um milhão de habitantes que Portugal, tem um milhão e duzentos mil funcionários públicos e, ao mesmo tempo, um muito alto nível de vida, excelente protecção social e menos desigualdade que o nosso país. É isto que os nossos ministros precisam de aprender (isto é, serem “reclassificados”), para não andarem a destruir Portugal.

Publicado no DN Economia 23-10-2006, com o título “Função pública”

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