3 de julho de 2007

Quem paga a destruição da agricultura?

Nas últimas décadas os governos de Portugal têm desenvolvido uma intensa campanha de destruição da nossa agricultura, como tenho denunciado em vários escritos. Isso leva a fazer uma pergunta: quem está a pagar a destruição da agricultura portuguesa?
A resposta é simples: todos os portugueses.
Algumas pessoas – e provavelmente os governantes que têm desenvolvido essa campanha de destruição – talvez julguem que são só os agricultores. Mas não são. No seu aspecto mais visível e evidente, a resposta encontra-se em qualquer supermercado. Quando uma dona de casa vai comprar frutas e hortaliças, o quadro que se lhe depara é pura e simplesmente vergonhoso. É perfeitamente natural e lógico encontrar, vindas do estrangeiro, bananas, mangas, papaias e mais frutos que aqui não podemos produzir economicamente. Mas o que se vê são muitos produtos que aqui devíamos produzir melhores e mais baratos vindos não só da nossa vizinha Espanha, mas também de países bem distantes, alguns de mão de obra muito mais cara que a nossa. É esse, por exemplo, o caso de batatas, cebolas, cenouras, alhos, alfaces, tomates, pimentos, feijão verde, melões, melancias, laranjas, limões, ameixas, pêssegos, nêsperas, maçãs, peras, uvas, morangos, etc. etc. etc. O que considero mais espantoso é encontrar cebolas vindas da Austrália (do outro lado da terra!) e rabanetes vindos da Holanda, caso que já comentei noutro local.
Para todos esses produtos possuímos condições naturais para os produzir de melhor qualidade e mais baratos. Só pela incapacidade da nossa agricultura, que o ministério do sector muito tem feito para degradar é que é possível a estrangeiros virem cá vender aqueles produtos.
Para pagar esses produtos importados temos de ganhar dinheiro noutras actividades. Não os produzindo aqui, são muitos postos de trabalho que não ocupamos. Se os produzíssemos estaríamos a aumentar o nosso paupérrimo PIB, pela maior contribuição que lhe daria o PAB, o Produto Agrícola Bruto. A nossa balança comercial apresenta um défice grande porque importamos muito mais do que exportamos e por isso os nossos economistas clamam que é preciso exportar mais. No entanto, “esquecem-se” de que o mesmo efeito se consegue mais facilmente se não tivermos de importar os muitos milhões de euros que temos de pagar por aquelas frutas e hortaliças, para só falar do que salta mais à vista.
Pela oferta portuguesa de mais produto reduziríamos a inflação. E como para produzir mais os agricultores teriam de comprar mais máquinas, adubos, pesticidas, embalagens, etc. etc. a indústria e o comércio - a montante e a jusante – seriam beneficiados. Num dos recentes anos de grande seca, por motivo da qual os agricultores reduziram algumas culturas, ouvimos queixumes dos comerciantes, que estavam a vender menos produtos do que habitualmente. Isto é, a destruição da agricultura reduz grandemente a riqueza nacional, afectando todos, com excepção dos importadores de produtos agrícolas, que assim vivem bem, à custa da bolsa de todos os portugueses.

Publicado no “Jornal de Oeiras” em 17-10-2006

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