15 de março de 2008

A cimeira e a democracia

Publicado no “Linhas de Elvas” de 28-12-2007

A cimeira Europa–África originou variadíssimos comentários e as mais díspares opiniões. Creio que, para Portugal, a maior utilidade terá sido levar a todo o mundo boas imagens do nosso país, com o complemento de mostrar como se deram ao trabalho de virem até cá tantos chefes de estado e de governo. Tive eco de alguns comentários muito favoráveis sobre Portugal e as suas paisagens, o que talvez compensasse o preço alto que pagámos.

Se os apregoadíssimos resultados para a colaboração entre os dois continentes e especialmente o bom desenvolvimento duma muito atrasada África se vão verificar, só o futuro próximo dirá. Mas, tal como variados comentadores indicaram, é possível que tais resultados sejam muito escassos. Parece evidente que, pelo menos para alguns países europeus, a ideia de ajuda tem como objectivo último fazer bons negócios.

Muitos comentários de portugueses eram referentes à democracia, ou à falta dela, em muitos países africanos. Sabendo-se o que foi a história da África nos séculos XIX e XX, não me surpreende que em muitos dos seus países não exista um sistema democrático de governo.

O que surpreende é que haja na Europa pelo menos um país, Portugal, em que meia dúzia de ditadores têm o direito de dizerem aos cidadãos quem é que eles têm “licença” de escolher para, presumivelmente, os representarem no órgão máximo legislador e donde emana o governo, a Assembleia da República. E mais surpreendente ainda é que aqueles que, legitimamente, se queixavam de não poderem escolher livremente os seus deputados, acham que agora têm eleições “livres” e consideram o regime uma “democracia”!

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