14 de março de 2008

O Biogás

Publicado no “Jornal de Sintra” de 2 de Novembro de 2007

e no “Notícias de Albufeira” de 1 de Janeiro de 2008

Portugal e a Europa lá acordaram, finalmente, para as energias renováveis como uma forma de reduzir significativamente a dependência do estrangeiro em relação a petróleo e gás natural. Se tivessem começado há algumas dezenas de anos a situação actual seria bem diferente. Além da economia por importar muito menos, até o preço do petróleo, a aproximar-se do valor espantoso de 100 dólares por barril (escrevo em 21-10-2007), não teria subido tanto se o consumo fosse mais reduzido.

Dos programas já em concretização ou em projecto vejamos quais as modalidades a serem tratadas. Além das barragens construídas ao longo de mais de 60 anos, anuncia-se agora a construção de mais algumas. A energia eólica (em tempos muito usada para fazer mover os barcos e para moer os cereais) já tem algo em actividade e prevê-se a sua expansão. Também já temos a produção de calor por painéis solares e a produção de electricidade directamente por células fotovoltaicas, mas numa parcela muito pequena das potencialidades. Em termos de combustíveis líquidos dão-se os primeiros passos na utilização do etanol e do biodiesel. Julgo estar em marcha um projecto de aproveitamento da energia das ondas, tudo isto, infelizmente, com tecnologia estrangeira porque a miopia dos governos não lhes permitiu compreender que era preciso investir em grande e inteligentemente na investigação científica nos campos em que temos enormes potencialidades.

Para vários destes casos já em tempos chamei a atenção(1, 2) mas continua a ser ignorada uma outra fonte de energia renovável, nada difícil de instalar e de que já houve, ao longo dos anos, pequenos aproveitamentos. Estou a falar do biogás, também chamado gás do estrume ou gás dos pântanos, para que também já em tempos chamei a atenção( 3, 4, 5 ).

Por fermentação anaeróbia (isto é, na ausência de ar) de detritos orgânicos obtém-se o metano, um gás combustível de fórmula CH4 , ou seja, composto, simplesmente, em cada molécula, por um átomo de carbono e quatro átomos de hidrogénio.

Há essencialmente dois processos de o produzir: por via seca (processo descontínuo) ou por via húmida (processo contínuo). No primeiro acumula-se o estrume em cubas fechadas e durante uns meses vai sendo libertado o gás, que é recolhido através dum tubo no topo da campânula e pode ser usado para aquecimento (em queima, como num fogão) ou para alimentar directamente um motor de explosão, que pode ser acoplado a um gerador para produção de energia eléctrica. Também pode ser comprimido em botijas, como as usadas para o gás butano, para transporte e até para accionar motores de automóvel.

Ao fim de alguns meses, quando cessa ou começa a ser escassa a produção de gás, a cuba é aberta e o estrume pode ser usado como fertilizante, pois até manteve toda a sua componente azotada. Para que não haja interrupções na produção de gás, é necessário que haja uma bateria de, pelo menos, três digestores para que, quando um deles está a esgotar a sua produção de gás haja outro a entrar na plenas produção e outro a ser carregado.

No processo de via húmida pode haver um único digestor, onde os detritos são introduzidos com água e o líquido em excesso vai saindo normalmente na outra extremidade. Esse líquido pode ser transportado em autotanques, para ser lançado na terra como fertilizante. Julgo ser este o processo mais indicado para casos como os das explorações de porcos e podem constituir uma boa solução para combater o grave problema da poluição.

(1) Mota, M. - A agricultura é que há-de substituir o petróleo, Vida Rural, nº 128, 1982

(2) ---------- - A Europa, as Energias Renováveis e a Agricultura, Vida Rural, nº 1719, 2006

(3) ---------- - O gás do estrume, Vida Rural, nº 84, 1980

(4) ---------- - Carros podem ser movidos a estrume, Tempo, 31 de Dezembro de 1980

(5) ---------- - Carros movidos a estrume, Diário de Notícias, 20 de Maio de 2001

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