30 de agosto de 2008

Os funcionários a mais

Publicado no Linhas de Elvas de 23 de Dezembro de 2004
e na Sintra Regional Nº 10, Abril de 2005

Numa entrevista na televisão em Setembro de 2004 o ministro das Finanças Bagão Félix falou dos funcionários a mais no Estado e especialmente no Ministério da Agricultura.
Se o ministro das Finanças estiver a colaborar com aqueles que, a todo o custo, querem liquidar a agricultura portuguesa, com grandes benefícios para os importadores de produtos agrí­colas e enormes prejuízos para a economia nacional; e se não estiver interessado em que Portugal tenha uma florescente agricultura “que, aliás, lhe renderia bom dinheiro em impostos, tanto directamente como nas suas repercussões no comércio e na indústria, a montante e a jusante“ é exactamente esse caminho que deve tomar.
O Ministério da Agricultura não faz hoje muitas acções que devia fazer e faz até bastante menos dessas acções do que jé fez em tempos. Por essa razão, a nossa agricultura, que já era atrasada, ainda mais se atrasou em relação a todas as outras da UE. Já por lá passaram, depois do 25 de Abril, ministros dos quatro maiores partidos e todos eles contribuíram para a degradação da nossa agricultura, bem patente em qualquer supermercado. Todos têm destruí­do o pouco que havia dos dois serviços que são as únicas alavancas para melhorar a nossa agricultura: a investigação agronómica (que descobre as formas de agricultar melhor) e a extensão agrícola (que leva até aos agricultores os conhecimentos de que eles necessitam).
Mesmo com os escassos elementos disponí­veis, mais de uma vez demonstrei o fabuloso investimento que é o dinheiro gasto nesses serviços (e tanto melhor quanto mais bem geridos forem), tão alto que o próprio orçamento do Estado recolhe, em impostos sobre as melhorias obtidas, mais do que ali investiu. Infelizmente, os vários ministros das Finanças e da Agricultura têm dado sobejas provas de que não sabem isso. E também nãoo sabem os Primeiros Ministros, que bem caro pagaram nas urnas essa monumental machadada que têm dado na economia nacional. As mudanças da cor dos governos das últimas décadas têm sido causadas essencialmente pelo estado miserável da nossa economia e esta começa exactamente pela base. O que o Pais deixou de produzir, no sector dos produtos agrí­colas "quando tinha toda a obrigação de o fazer, melhor e mais barato“ custou-lhe carí­ssimo no que teve de importar. Apenas ganharam “ e muito bem!... “ os importadores desses produtos (batatas, cebolas, cenouras, rabanetes, alhos, alfaces, tomates, pimentos, feijão verde, melões, melancias, laranjas, limões, ameixas, pêssegos, nêsperas, maçãs, pêras, diospiros, uvas, morangos, etc. etc. etc. vindos, ás vezes de bem distantes terras) em detrimento da economia nacional. Os reflexos negativos no PIB, na inflação, no desemprego e nas balanças comercial e de pagamentos são enormes. E perdem também o comércio e a indústria, pelos já mencionados reflexos que neles tem, a montante e a jusante, uma agricultura desenvolvida.
A vários ministros da Agricultura sugeri já um Programa Intensivo de Investigação Agronómica e de Extensão Agrícola, a única forma de recuperar o tempo perdido e dar à economia portuguesa a contribuição que a agricultura pode e deve dar para uma bem mais evidente retoma. Nenhum, até agora, o quis pôr em execução. Se continuarem as erradíssimas politicas que têm sido seguidas neste sector, a economia portuguesa vai continuar no seu passo de caracol. Em vez de se afastar cada vez mais da média europeia (como sucedeu nestes últimos anos), podia crescer a ritmo acelerado, em valores que em poucos anos lhe dariam uma posição muito melhor. O bem estar médio do povo português seria bem diferente do que é hoje.

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