Publicado no Linhas de Elvas de 1 de Abril de 2010
A TSF Rádio tem um programa, aos sábados, em que uns senhores funcionam de governo sombra. Não é um programa tão bom como o Fórum, de 2ª a 6ª (que dá a oportunidade de ouvir a opinião de muitas pessoas sobre as mais variadas matérias) mas de vez em quando lá se ouvem algumas verdades. (Era escusada a risota constante, mesmo quando não há piada nenhuma. Talvez tivesse mais graça se tudo fosse dito com o ar sério dum governo sombra).
Em 6 de Março de 2010 foram ditas algumas verdades, numa correcta análise da situação, em que os portugueses deviam meditar. Foi dito que o chefe de cada partido é escolhido pelos seus filiados. (Lembro que os filiados dos partidos são uma fracção muito pequena do total dos eleitores). Assim, os filiados do PS e os do PSD, ao elegerem os respectivos chefes, estão - nas condições actuais desta pseudo-democracia - a escolher um dos dois únicos possíveis candidatos a Primeiro Ministro. Quando há eleições gerais para eleger os deputados à Assembleia da República, mas também o Primeiro Ministro, os 8 milhões de eleitores, como foi dito neste governo sombra, só têm possibilidade de escolher uma dessas duas pessoas, como se referiu escolhidas por uma minoria de cidadãos. Não o declararam expressamente no programa mas deixaram entender o que tem de ridículo chamar ao sistema "democracia" e dizer que os portugueses têm "eleições livres".
Recentemente tive que chamar a atenção duma pessoa que dizia - como a maioria dos portugueses! - que "Sócrates foi eleito democraticamente", que ele foi eleito porque os 8 milhões de portugueses só tinham a possibilidade de escolher entre ele e Manuela Ferreira Leite. E muitos que tinham jurado nunca mais votar em Sócrates - que, em cinco anos, tanto afundou o país e lhes reduziu o nível de vida como nunca tinha sucedido - foram obrigados a votar nele porque, declararam, tiveram medo que Manuela Ferreira Leite, que já esteve no governo, "fizesse ainda pior".
Se os portugueses que o desejassem pudessem candidatar-se a deputados; se as eleições fossem por círculos uninominais; se os partidos fossem proibidos de apresentar candidaturas e se limitassem a apoiar aquelas que entendessem, como nas eleições para o Presidente da República, as únicas democráticas em Portugal; se a eleição do Primeiro Ministro fosse nos moldes que já sugeri (1), então sim, teríamos um sistema democrático, porque as eleições seriam livres.
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(1) Mota, M. - A eleição do Primeiro Ministro. Jornal de Oeiras de 7-6-2005
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