31 de março de 2011

A economia

Publicado no Linhas de Elvas de 24 de Março de 2011

A carta duma leitora da revista americana TIME, publicada no número de 21 de Março de 2011, comentando um artigo dum número anterior, aplica-se muito bem ao caso português e por isso permito-me traduzir uma parte:
"O que os Estados Unidos precisam agora é de alguém que saiba como é que o nosso país pode criar riqueza. Esse é o nosso maior problema económico, não o défice. O défice desaparecerá quando a economia crescer e voltarmos ao pleno emprego. Cortar nas despesas apenas levará a uma maior recessão".
É claro que se estão a considerar os cortes nas despesas "normais" e isso inclui os salários dos trabalhadores. As despesas que podemos considerar "anormais" podem e devem ser cortadas. Quando um país pobre (porque a riqueza média dos cidadãos é muito baixa) paga ao governador do seu banco central o dobro do que os americanos (ricos) pagam ao seu equivalente nos Estados Unidos; ou quando o presidente duma empresa pública leva para casa um ordenado que é várias vezes o do Presidente da República; ou quando os gabinetes ministeriais estão cheios de assessores e outros funcionários supérfluos (os assessores dos ministros devem ser os serviços do seu ministério); ou quando o orçamento do estado financia lautamente os partidos políticos (que, em democracia, são entidades privadas e nunca órgãos de poder); ou quando os impostos ou cortes em salários e pensões têm uma taxa progressiva até certo nível e, daí para cima, já não sobem mais, numa escandalosa protecção aos mais ricos, aí sim, nessas despesas e noutras do mesmo estilo há muito onde cortar.
No que a carta refere, sobre alguém que saiba criar riqueza, desde Guterres para cá os governos têm sido um verdadeiro desastre. Nisso, realmente, têm sido verdadeiramente "socialistas", a lembrar as repúblicas que usavam esse nome. Depois do governo de Cavaco Silva, os crescimentos do PIB foram sempre inferiores à média europeia e, depois de crescimento negativo, são sempre valores ridiculamente baixos, mostrando que estes governos não têm tido "alguém que saiba como é que o nosso país pode criar riqueza". E não vale a pena vir com o argumento dos dinheiros vindos da Europa, pois eles têm continuado a vir e, com Sócrates, eram tão abundantes que ele devolveu parte a Bruxelas.
Como já tenho escrito, não tenho competência para dizer o que se deve fazer na indústria e nas pescas, os sectores que, com a agricultura, criam riqueza de base, de que os outros dependem. Mas na agricultura, há décadas que, em centenas de escritos e dezenas de palestras, tenho mostrado o que há a fazer e não é difícil (para quem sabe, evidentemente) nem caro quando comparado com variados investimentos que rendem muito menos. Não só não se tem feito o que é necessário como se tem assistido a uma colossal destruição do sector, com fabulosos prejuízos para o país, destruindo as bases de que depende o seu progresso. Os resultados dessa destruição têm causado enormes danos, através dos seus maus efeitos sobre o PIB, a inflação, o desemprego, a produtividade, a balança comercial e até no comércio e na indústria, a montante e a jusante. Se Portugal não encontrar "alguém que saiba como é que o nosso país pode criar riqueza" pode estar certo de que vai continuar a descer no contexto das nações e a vida vai continuar a ser cada vez mais difícil para a grande maioria dos portugueses.

Sem comentários: