31 de março de 2011

A Pêra Rocha e a Maçã Bravo

Publicado no Linhas de Elvas de 3 de Março de 2011

A Pêra Rocha, essa variedade nacional tão justamente apreciada, em Portugal e no estrangeiro, pelo excelente sabor, está bem firmada no mercado e aparece à venda ao longo de vários meses, o que é uma boa indicação de que é produzida em grande quantidade e dispõe de bons sistemas de conservação. Embora seja produzida em diferentes regiões, é no Oeste que ocupa a maior área, num total de cerca de 2.000 ha. Nessa região tem mesmo uma Designação de Origem Protegida, com o nome de "Pêra Rocha do Oeste". É um dos produtos que bastante contribui para a nossa balança comercial, pois é exportada em grande quantidade. Ao contrário de muitas variedades antigas portuguesas, a origem desta pêra é conhecida: foi encontrada em 1896, em Sintra, na propriedade do senhor António Pedro Rocha, donde lhe veio o nome.
Admito que possa ainda ser alargada a área da produção pois, com a sua excelente qualidade, talvez possa aumentar a exportação. Como se encontra alguma variabilidade, tanto em relação ao fruto como em relação à árvore, creio que seria indicado um trabalho de melhoramento por selecção clonal.
Existe uma outra fruta portuguesa de grande qualidade, o pêro Bravo de Esmolfe, que há muitos anos eu penso que devia ser melhor aproveitado. E estranhava não o encontrar nos supermercados, pois pensava que ele teria muitos apreciadores. Comecei a vê-lo há pouco tempo, com o nome de "Maçã Bravo" e espero que não desapareça dos mercados e, se bem trabalhado, vir a ser algo como a Pêra Rocha. (Chama-se pêro a uma maçã que é mais comprida do que larga). Quando o encontrei num supermercado e mesmo sem o nome "de Esmolfe", logo pela sua forma e coloração acreditei que fosse o nosso conhecido, o que confirmei pelo gosto. O seu aroma intenso e muito agradável - já estão identificados pelo menos alguns dos seus componentes - tornam-no muito superior à maioria das maçãs que aparecem à venda, pelo que, se a nossa agricultura o trabalhar bem, não me surpreenderia que pudesse ser algo com a amplitude e projecção da Pêra Rocha, dando, como ela, uma excelente contribuição para a economia portuguesa. Pode bem vir a ser um dos muitos "tesouros ocultos" da agricultura portuguesa (já tenho chamado a atenção para alguns), à espera que o vão desenterrar. Mesmo sem o nome da sua terra Natal, Esmolfe, o nome de Maçã Bravo parece-me muito bom para ser divulgado internacionalmente.
A sua área de cultura situa-se principalmente na Beira Alta e creio que, embora possa expandir a sua área, tem mais limitações do que a Pêra Rocha, sendo menos provável a sua expansão para Sul, pois exige um inverno bastante frio, que encontramos principalmente no Norte do país. É possível que, especialmente nas zonas de inverno frio do Alentejo, ele consiga vegetar bem, se o grande calor do verão não for um factor adverso. Não tenho notícia de quaisquer ensaios que tenham sido feitos nesse sentido. A não existência duma "Bibliografia Agrícola Portuguesa", que o Ministério da Agricultura já devia ter elaborado, segundo a proposta que fiz em 1949, quando me encontrava a trabalhar em Elvas (ver "Agros", vol.33, páginas 113-119, Maio-Junho de 1950), torna muito difícil saber o que já foi feito, principalmente em matéria de investigação agronómica. É provável que o melhoramento por selecção clonal também aqui seja capaz de obter bons resultados a curto prazo, com a eleição de clones com maior produção ou melhor qualidade do que o que hoje se cultiva.

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