Vi na TV, em 6-12-2006, apenas uma pequena parte da transmissão, da Assembleia da República, sobre fogos florestais, creio que numa reunião duma comissão, com a presença do Ministro do Ambiente.
Disse o senhor ministro que, em todos os países desenvolvidos do mundo, a população agrícola tem decrescido muito, o que é verdade. Disse, depois, que Portugal tinha 40% da sua população na agricultura. Não sei a que ano se referia, mas certamente não era a 1974, pois nessa altura andava na casa dos 20%, o que era muito. Não disse que mais de 30 anos depois, em consequência da inépcia dos governos que temos tido, temos uns 10%, o que ainda é muito.
Não disse – e foi pena, mas naturalmente não sabe – que essa diminuição da população agrícola foi acompanhada dum enormíssimo aumento da produtividade, da terra e dos homens, de tal forma que a produção agrícola subiu de forma espectacular. Nesses países, sejam eles grandes, como os Estados Unidos, ou pequenos, como a Holanda e a Dinamarca, a agricultura, com poucas pessoas, não só alimenta a população como ainda exporta em larga escala.
Também não disse – e foi pena, mas naturalmente não sabe – que esse enorme aumento de produtividade – e da riqueza que daí advém – foi o resultado duma excelente investigação agronómica dos respectivos Ministérios da Agricultura que, alem de dar uma grande contribuição para a ciência em geral, forneceu à agricultura melhorias e soluções que lhe permitiram atingir o nível que tem hoje. Acresce, ainda, que esse desenvolvimento da agricultura tem efeitos benéficos na indústria e no comércio, a montante e a jusante, assim dando mais uma ajuda, indirecta, ao crescimento da economia, algo que é desconhecido em Portugal.
Compare-se tudo isso com o que os governos de Portugal têm andado a fazer, nas últimas décadas, à investigação agronómica portuguesa, destruindo deliberadamente, de forma descarada, o que havia e era insuficiente. Como vivi, no activo, o período em que a investigação agronómica, não tendo a dimensão que o País exigia, era alguma – e muito deu à nossa economia – e aquele em que esse pouco começou a ser deliberadamente destruído, causando a essa economia prejuízos fabulosos, sei bem do que falo e que fui denunciando, ao longo dos anos, em numerosos artigos e conferências. E do que vejo actualmente, a destruição continua, cada vez com maior intensidade.
A responsabilidade desses enormes prejuízos começa por ser dos Primeiros Ministros, como os responsáveis número um por tudo o que se refere à governação do País. Mais especificamente, a responsabilidade é dos Ministros da Agricultura, que têm demonstrado uma espantosa ignorância em relação ao que se deve fazer para desenvolver a agricultura, o que é, afinal, a razão da sua existência. E, desde que passaram a interferir no processo, também dos Ministros da Ciência, que têm mostrado idêntica ignorância. Não é por acaso que a agricultura e, como consequência, também a economia de Portugal estão como estão.
Publicado no “Linhas de Elvas” em 14-12-2006 e no “Jornal de Cascais” de 6-2-2007
3 de julho de 2007
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