Publicado no "Jornal de Sintra" de 30 de Maio de 2008
Já algumas vezes tratei deste assunto mas julgo que vale a pena voltar a ele porque, na sua aparente insignificância, ele é, na realidade, importante.
O pequeno quintal, uma área agrícola de maior ou menor dimensão, geralmente junto à casa de habitação, desempenha um papel de múltiplas facetas. A jardinagem e a horticultura constituem uma actividade física de grande qualidade. Desenvolvendo-se ao ar livre, dá a quem a pratica a possibilidade de respirar um ar normalmente mais puro do que o que existe no interior das habitações. Sendo uma actividade física moderada, equivale à frequência de ginásios, tendo associada a ideia de que os seus resultados oferecem um produto valioso, do ponto de vista comestível (frutos e hortaliças) ou da beleza das flores. É ainda uma actividade relaxante, óptima para praticar quando se atinge uma certa saturação em actividades sedentárias, como a escrita ou a leitura e, actualmente, o computador.
A todos estes aspectos, que chegariam para justificar a existência de quintais junto das habitações, soma-se o valor da produção agrícola, normalmente de hortaliças, frutos e flores. Muitos centos de milhares de quintais formam, no seu total, uma apreciável área agrícola cuja produção não aparece nas estatísticas, mas é real. O seu valor é o somatório de muitos aspectos úteis, para além dos que já foram enunciados.
A mão de obra não tem custo. É o divertimento dos seus proprietários.
Não há custos de transportes, pois os produtos vão directamente para os consumidores. E o consumidor sabe exactamente o que está a comer, sem a suspeita de que possa vir contaminado por pesticidas (a menos que ele próprio os tenha aplicado) ou outras manipulações. Os produtos não sofrem a deterioração que frequentemente acontece porque a colheita é geralmente feita imediatamente antes do consumo. Isto é particularmente importante para os frutos, colhidos apenas quando atingem a maturação. Os frutos comprados num supermercado foram muitas vezes colhidos bastante antes da sua maturação, para aguentarem transporte e armazenagem, o que, especialmente para algumas espécies, faz com que as suas qualidades de sabor e aroma não possam atingir toda a sua plenitude.
No caso das vivendas, a existência dum quintal, maior ou menor, é a norma. Em relação aos prédios com numerosos fogos, é mais rara a sua existência, embora haja exemplos duma área de quintal, dividida em parcelas, cada uma atribuída a um dos fogos. Tenho a impressão que esses casos são cada vez mais raros. Não sei se não seria interessante, em planos de urbanização, considerar a obrigatoriedade duma certa área de quintais nos prédios de habitações múltiplas. Essa obrigatoriedade teria a vantagem de tornar maior o espaçamento entre prédios, com grandes benefícios para o ambiente e evitando os "paliteiros" de elevada densidade que vemos em muitos locais.
Vi na Suécia - e sei que existem noutros países - umas áreas, na periferia das cidades, divididas em parcelas que são outros tantos quintais, alugados ou vendidos a pessoas que habitam em andares sem quintal e que ali se deslocam - muitas vezes de bicicleta - para cultivarem hortaliças, frutas e flores. Não seria de estimular, em Portugal, um tal exemplo?
30 de agosto de 2008
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