"Como se cura uma agricultura que produz pouco, mau e caro" foi o título duma série de três artigos que publiquei há muitos anos(1) para tentar - como tenho repetido ao longo dos tempos - ensinar aos responsáveis pela agricultura em Portugal algo elementar mas que eles, pelos seus actos, mostram não saber.
Para transformar uma pobre agricultura numa de grande eficiência e de grande valor económico é necessário que o Ministério da Agricultura possua uma muito ampla, eficiente e de alto nível investigação agronómica (que constantemente descubra formas de agricultar melhor, no seu sentido mais lato) e um serviço que tem hoje no mundo o nome de extensão agrícola e que tem o objectivo de levar até aos agricultores os conhecimentos criados e que lhes permitem melhorar a sua actividade económica.
Relembro estes factos ao ler o editorial "Marcas do Tempo" do Director do "Jornal de Oeiras" de 1-12-2009. Ali se diz:
"Estamos habituados a ouvir dizer que a nossa agricultura não é rentável e por isso não tem razão de existir, não me atrevo a contrariar os entendidos nesta matéria ... talvez não fosse mau repensar algumas ideias, tendo em conta que para nos alimentarmos tem que haver produção agrícola ..."
Tem toda a razão o Director e apenas lhe digo que os que apelida de "entendidos" têm mostrado uma tremenda ignorância (a menos que seja intencional e então seria um caso de polícia) com a qual têm ajudado a afundar este país, com uma monumental destruição dessa parte importante da economia que é a agricultura.
Os erros cometidos são tanto mais estúpidos e graves porque os investimentos feitos naqueles dois serviços, que têm andado a ser destruídos, são de tal forma fabulosos que os economistas, mesmo aqueles que tinham obrigação de os conhecer, não pensam ser verdadeiros. Na realidade, são um óptimo negócio até para o orçamento do estado. Também há muito venho demonstrando essa realidade(2) e repeti-a em Março deste ano de 2009 numa conferência na Universidade de Évora.
Alguns desses falsos "entendidos" tentam desculpar-se com a Política Agrícola Comum (PAC) da União Europeia. Basta ver o que é a agricultura doutros países submetidos à mesma PAC e com algumas condições naturais piores que as nossas para se fazer ideia do que devia ser, actualmente, a agricultura portuguesa. Lembro a Holanda, a Dinamarca, a França e até a Espanha para as esfarrapadas desculpas caírem pela base. Recentemente, aos microfones do Fórum da TSF Rádio, tratando deste tema, terminei da seguinte forma "O actual ministro deverá inverter esta destruição que, aliás, está patente em qualquer supermercado. E o responsável número um é, naturalmente, quem estiver à frente da pasta do Ministério da Agricultura. É isto que era preciso fazer para Portugal sair da cauda da Europa".
(1) Mota, M. - Como se cura uma agricultura que produz pouco, mau e caro. Jornal do Comércio de 11 e 19/20 de Dezembro de 1964 e 5 de Abril de 1967. Também no livro Problemas da Investigação Científica. Problemas da Agricultura, Lisboa 1969, Pág. 185-193
(2) Mota, M. - A rentabilidade dos Serviços de Agricultura. Jornal do Comércio de 7, 10, 16 e 21 de Julho de 1969. Também no livro Problemas da Investigação Científica. Problemas da Agricultura, Lisboa 1969, Pág. 250-265
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