1 de novembro de 2010

Não aprendem

Publicado no "Linhas de Elvas" de 29 de Julho de 2010

Eu não consigo compreender como é que pessoas, certamente inteligentes, persistem em fazer declarações erradas, em matéria elementar e até da sua especialidade. Já mais de uma vez tive de chamar a atenção para esse erro. Alguns dos nossos mais conhecidos economistas consideram que a única - repare-se, "a única" - forma de reduzir a nossa dívida é "exportando mais". No "Expresso" de 17-7-2010 o Prof. Daniel Bessa persiste em considerar apenas o aumento das exportações como a solução para reduzir ou atenuar o nosso défice. No "Público" de 19-7-2010 o Eng.º Mira Amaral considera "que, para Portugal, as exportações são a única salvação". É óbvio que exportar mais é importante e tudo o que se puder fazer nesse sentido é boa ajuda à nossa economia e às nossas finanças. Mas para isso é preciso que haja quem queira os nossos produtos. E não é a única forma de obter o mesmo efeito porque há outra e que só depende de nós: não ter de importar aquilo que temos obrigação de aqui produzir e, às vezes, melhor e mais barato. Não sei dizer o que se pode fazer na indústria e nas pescas, embora suspeite que se pode fazer bastante melhor. Recordo-me de algumas indústrias que penso que deram boa contribuição para a nossa economia e desapareceram, como a Sorefame, os Cabos de Ávila e outras. Há muitos anos assisti ao lançamento à água de navios para a nossa marinha de guerra, construídos no antigo Arsenal do Alfeite, onde é hoje a Avenida da Ribeira das Naus. Temos uma Zona Económica Exclusiva muito maior do que a da Espanha e... compramos peixe aos espanhóis! Mas se, em vez de destruírem a agricultura, como têm andado a fazer vários governos e com acrescida intensidade aquele que terminou há quase um ano, fizessem o que, ao longo dos anos, venho preconizando, não teríamos de importar os muitos milhões de euros de produtos agrícolas que vergonhosamente abundam nos nossos mercados. A nossa situação económica e financeira seria bem outra e não estaríamos na cauda da Europa. Termino como comecei: não consigo compreender.

1 comentário:

Fernando Felizes disse...

Tem a ver com o sistema económico neoliberal em que vivemos, o qual acenta em base das exportações ao mais baixo preço, o problema está, e é aí que começam as crises deste sistema, é que nem todos os países podem exportar, porque não podem ter todos, simultaneamente, execedentes comerciais.

Fernando Felizes